sexta-feira, 9 de julho de 2010

Poesia Galpão Campeiro de Nabuco Portes


GALPÃO CAMPEIRO
Nabuco Portes


Meu galpão de pau-a-pique,
Esteio de alma charrua,
Falquejado em boa lua,
Pra que o caruncho, não fique.
Deixando que o tempo explique
Ciências do teu feitio.
Ouvindo o canto do rio,
Me lembro galpão eterno,
As longas noites de inverno,
Que me abrigaste do frio.

Recostado em teu fogão,
Desfrutei desde borrego,
Esse crioulo aconchego
De acavalo num tição.
Entre monarca e peão,
Fui-me fazendo campeiro...
Aprendendo por primeiro,
Que o torto, não se endireita,
E é depois da trança feita
Que se conhece o guasqueiro.

Também aprendi, contigo,
Segredos de tempo e lida,
Exemplos pra toda a vida
Que cultivando prossigo...
Ó velho galpão amigo!
Um dia te abandonei,
No mundo por onde andei
Desgarrado da querência,
Não suportei tua ausência
E arrependido, voltei.

Como é bom, galpão querido!
Matear assim, junto a ti,
Lembrando que foi aqui,
Que fui gerado e parido...
Te contemplo comovido,
Primitivo santuário;
Do gaúcho, legendário
És o trono abarbarado,
Porém, templo consagrado,
Nos terços do meu rosário.

Que lindo, ver o brasedo,
De coronilha e pau-ferro,
Momento em que me desterro
Do mais profundo segredo.
Eu que sempre acordei cedo,
Compreendo um pouco a magia,
Da cambona, quando chia,
A bóia, o causo e a canha...
Maravilhas da campanha,
Que hay no galpão, todo dia!

Galpão que já foi trincheira,
Do Farrapo, intemerato.
De Chimango e Maragato,
Honrando a estirpe campeira.
Foste mastro de bandeira,
E juratório também...
Não rejeitaste ninguém,
Sedentos de amor, afeto;
Fazendo assim, do teu teto,
O lar, que muitos não tem.

Sinto no calor da brasa
E no cheiro da fumaça,
Um fluído que perpassa,
O próprio chão que te embasa.
Eu que lo tenho, por casa,
Galpão velho, sem igual!
Ás de ser o memorial,
De quem apenas alcança,
Na lavratura da herança,
O contexto, original.

Meu corpo será parceiro,
Das caseiras de cupim,
Ranchos de barro e por fim,
Argila, pra o João Barreiro.
Mas o espírito campeiro
Há de ficar, meu galpão,
Nas cinzas do teu fogão.
Nas tiras de picumã.
Refeito em cada manhã,
No ritual do chimarrão...

Assim, serei sentinela,
Do galpão, que na verdade,
Em nome da liberdade
Não lo puseram tramela.
Bendita mão, foi aquela!
Campeira por excelência,
Que te ergueu, sem opulência,
Na rústica engenharia,
Para que fosses um dia,
A alma desta querência!!!




Deixo aqui esta poesia para agradecer as visitas e o apoio dos amigos que vieram aqui no meu galpão!
Muito obrigada e espero que daqui pra frente venham sempre aqui se sentar, tomar um mate e proziar sobre coisas boas da nossa terra!

Um super beijo!
Ju

6 comentários:

  1. mui linda a poesia, quem é Nabuco Portes? grande poeta não??? traga informações deste pra gente... ok Juliana...

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  2. na terceira linha da quinta estrófe, falta a palavra (me).

    MOMENTO EM QUE ME DESTERRO

    conheço o poeta Nabuco Portes, é do Paraná...

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  3. Valeu Juliana, linda poesia... de verdade mesmo,
    bem crioula, foste feliz na escolha... parabéns. até qualquer dia, um forte abraço!!!! Cardoso

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  4. Olá legal muito bom bela poesia tbm
    tens bom gosto

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